Salva por um cão: a história de um resgate

Quem nunca viu um filme, um vídeo nas redes sociais, ou ouviu uma história de um colega de trabalho ou amigo próximo sobre como um animal de estimação faz a diferença na vida das pessoas, independentemente da idade, classe social ou país onde moram? Não importa a raça, a cada dia, os bichinhos ganham mais espaço na casa e no coração dos humanos.

Alessandra Sawick, fotógrafa brasileira, natural de Londrina, no Paraná e que mora em Nova Iorque há 18 anos, é uma dessas pessoas que teve a vida completamente transformada por um animalzinho. “Passei por uma depressão muito grande depois de perder gêmeos, grávida de 16 semanas. Não senti mais vontade de viver. Eu era uma mulher de quase quarenta anos, bem casada há 14 anos, uma pessoa de personalidade compassiva e sem ter um serzinho para amar e cuidar. Estava muito triste”, conta.

A distância da família agravou ainda mais o luto que não passava. Foi quando pensou em colocou em prática uma ideia antiga: a de ter um cãozinho. “Sempre quis ter um, mas no condomínio onde morávamos não era permitido pets e, além disso, meu marido é alérgico a pelos de animais”, conta.

Alguns anos depois, se mudaram para uma casa e a fotógrafa convenceu o marido a adotar um pet hipoalergênico: as raças poodle e maltês que não soltam pelo e não causam alergia. No entanto essas raças não são facilmente encontradas em abrigo, além disso, o processo de adoção nos EUA é burocrático e caro, a taxa de adoção varia de 275 a 400 dólares. Foram meses de idas e vindas e, por fim, foram reprovados por não terem quintal cercado. De novo a frustração tomou conta de Alessandra. “Resolvi desistir, pois não consegui ter filhos e não conseguia adotar um cachorro”, lamenta.

Alessandra com Shanti e Gaia, suas salvadoras e fontes de inspiração Crédito: Fabiana Balarin

A sorte de Alessandra mudou no Natal de 2014, quando, em viagem à Flórida para as festas de final de ano, o sogro sugeriu que comprassem um cãozinho. “Minha primeira reação foi não, pois queria adotar um que não tinha lar. Além disso, um cachorro com as características que precisávamos custava, em média, 2.000 dólares”, afirma. Mas ela descobriu que na Flórida os cães custam um quinto do valor de Nova Iorque e que o sogro conhecia uma amiga que estava vendendo filhotes. “Fomos conhecer a ninhada e quando vi a Shanti, chorei, me apaixonei à primeira vista”, recorda.

A cadelinha trouxe vida aos novos pais. “Ela me trouxe tanta alegria e uma paz interior que há muito tempo buscava. Amei e me senti amada”, conta. A paixão era tanta, que Alessandra fotografava a “filha” todos os dias, com diferentes trocas de roupas. Como eram muitas fotos, ela decidiu abrir um perfil no Instagram para Shanti. “Com o tempo, os seguidores foram aumentando e o meu gosto pela fotografia pet também”, diz. Alessandra passou a buscar conhecimento sobre assunto, lendo livros e fazendo contatos. Conheceu a presidente de um abrigo decidiu fotografar os cães do abrigo de forma voluntária para divulgar nos site da instituição e nas mídias sociais.

A demanda aumentou e muitas pessoas pediam para Alessandra fotografar seus bichinhos de estimação. Insegura com relação à qualidade das fotos, não cobrava, mas montou um portfólio numeroso. Nessa época, em outra viagem para a Flórida, quando conheceu sua segunda cadelinha, a Gaia. Ao colocar as fotos de Gaia com as de Shanti no Instagram, o número de seguidores passou de 2 mil. A fotógrafa descobriu que não queria fazer outra coisa a não fotografar cães. “Distribui cartões em um festival canino próximo de casa, ofertando sessões de fotos impressas e digitais a 150 dólares”.

Cooper, primeiro cliente que despertou Alessandra para a fotografia pet profissional Crédito: Alessandra Sawick

Dois dias depois ligou a primeira cliente com a encomenda de fotografar seu cachorro Cooper, um husky siberiano de nove anos. “Infelizmente o cãozinho morreu dois meses depois do ensaio e a dona ficou muito grata por ter me encontrado e ter eternizado o Cooper em um retrato. Aí entendi a importância da fotografia pet para quem ama esses seres. Eles não ficam na nossa vida por muito tempo e nos proporcionam amor incondicional, mudam a vida da gente e depois se vão, assim, de repente”.

Naquele momento a fotógrafa, que já atuava na área desde 2011, sentiu que precisava se especializar nesse nicho para proporcionar às pessoas o mesmo sentimento que deu à dona do Cooper. Fez um workshop de imersão em Barcelona, e desde 2015, fez do amor pelos pets seu sustento. Para se aperfeiçoar ainda mais, cursou linguagem corporal e comportamento canino e se tornou uma Dog Behaviorista certificada pela Canine Trainers Academy (CATCH).

No Brasil Alessandra seria chamada de terapeuta canina, com habilidade para trabalhar em escolas de treinamento de cachorros. Além disso, é praticante de Reiki com especialização em Reiki para Animais, e fez curso de comunicação intuitiva com animais. Com a vida dividida entre o marido, as “filhas” Gaia e Shanti, e a doce tarefa de fotografar os lindos pets, Alessandra conclui: “Não fui eu que escolhi a fotografia pet, foi a fotografia pet que me escolheu”.

Por acreditar que o conhecimento não pode ser tirado das pessoas, mas sim, pode ser dividido e compartilhado, Alessandra está com planos de promover um workshop de imersão em fotografia pet no Brasil. A ideia é oferecer aos fotógrafos profissionais uma oportunidade de se aperfeiçoar e trabalhar no nicho pet. Mercado este que movimentou no Brasil cerca de 19 milhões em 2016.

Entre os clientes, além de aficionados por animais, há muitos casais que não podem ou não querem ter filhos, optam pelos dogs e, assim como a dona do Cooper, querem eternizar em fotos os bichos de estimação. De acordo com a fotógrafa há uma demanda por esse tipo de trabalho no Brasil e concluiu isso ao criar um grupo no Facebook que hoje conta com mais de 400 membros. “Percebi que há muita carência de informação e sinto que posso contribuir”, conclui. Além do grupo do facebook, Alessandra tem um site de dicas para fotografia pet.

Por Edilane Marques – jornalista

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