Qual o valor da vida de um cão?

Em 2015, quando esse fato aconteceu, escrevi sobre ele, mas vou contar a história desse resgate no FalaCão, pois sei que infelizmente a vida de um cão não tem muito valor para algumas pessoas, mesmo na época de Natal, quando todos estão, ou deveriam estar, mais propensos a praticar a bondade com o próximo, seja ele humano ou não.

Quem vê os primos Nicolas e Kauao, sorrindo, não imagina o Natal angustiante que os dois meninos e a família passaram em 2015. Eles são os tutores de uma vira-latas de dois anos, chamada Pretinha.

No dia 22 de dezembro, Pretinha fugiu de casa, tentou atravessar a rodovia BR 040 (Petrópolis-Rio de Janeiro) e foi atropelada por um carro grande e caro, por uma pessoa que teria condições de socorrer e tratar da cadelinha.

Não consigo dar tantos detalhes sobre o carro que a atropelou, pois na hora, nós que vínhamos atrás, tivemos que escolher entre seguir o “ser humano” que atropelou Pretinha –  que sequer olhou para trás, além de não ter reduzido ou desviado dela – ou tentar salvar a vida da vira-latas, já que um caminhão estava na direção dela, assim como tantos outros veículos em alta velocidade.

Estacionamos no acostamento e paramos o trânsito para remover a cadelinha do meio da pista. Ela estava em choque. Quando recuperou os sentidos, tentou me morder, por pressionar uma das diversas fraturas que teve. Ao perceber que a estávamos socorrendo, dando carinho e acalmando-a, me lambeu, como se estivesse agradecendo por ter salvado sua vida. O que poderia não ter acontecido se eu tivesse dado ouvido às pessoas que sugeriram eutanasiá-la, por ser “só” uma vira-latas “sem dono” e os gastos para sua recuperação serem altos, isso se ela tivesse chance de sobreviver.

As despesas foram bem elevadas sim, além de eu ter que provar para muitas pessoas que não fomos nós que a atropelamos quando buscava por ajuda, afinal, muitos não acreditam que alguém pode ser capaz de resgatar um cão do meio da rua apenas para salvar sua vida, sem nenhum sentimento de culpa ou esperando por algo em troca.

Felizmente, pude contar com grande ajuda, profissionalismo e amor do médico veterinário Luis Bento, da Clínica Veterinária É o Bicho, em Petrópolis, que assim que soube do caso da Pretinha, se prontificou a operara-la no mesmo dia.

Como acredito que um cão deve sempre ficar ao lado do seu dono, principalmente em momentos de dificuldade, procuramos o responsável pela Pretinha nas proximidades do local do atropelamento e deixamos nossos contatos. Como ela estava bem tratada e pelo jeito que atravessou a rodovia, muito provavelmente ela não era de rua.  Eu jamais teria um Natal feliz e tranqüilo, se estivesse sem uma das minhas filhas caninas. Imaginei que o dono da Pretinha estaria na mesma situação, em desespero.

Horas depois, uma pessoa me ligou e disse que a cachorrinha da vizinha havia sumido e poderia ser ela. Em seguida, a mãe de um dos donos da Pretinha ligou e disse que morava perto da rodovia e que a cachorrinha era deles e queria buscá-la, pois o filho estava preocupado e muito triste, chorava. Ela me mandou uma linda mensagem que o garotinho gravou agradecendo por ter salvado a vida da cachorrinha deles. Aí quem chorou, mais uma vez, fui eu.

A cirurgia da Pretinha não foi fácil. Ela teve fraturas no fêmur, quadril e uma luxação. Meu pedido de Natal foi que ela recebesse alta antes de termos que voltar para São Paulo, onde moramos. E mais uma vez a sorte esteve do nosso lado. No dia 26 de dezembro, Nicolas e Kauao foram buscar a companheira deles. Ouviram atentos todas as recomendações do Dr. Bento e estavam super ansiosos para reencontrá-la.

Enquanto aguardavam a vira-latas ter alta, me contaram um pouco mais sobre ela, inclusive que o “namorado” dela estava muito triste e com saudades. Ri e expliquei que ela teria que ficar um tempo sem “namorar”, para se recuperar e poder brincar com eles como antigamente, já que revelaram que ela é super brincalhona, ativa e adora subir na cama. Os dois responderam que iam cuidar dela, para a recuperação ser bem rápida.

Quando a Pretinha surgiu, no colo do assistente do veterinário, Nicolas e Kauao ficaram assustados, pois a cadelinha estava com os pelos raspados, inchada e não podia ficar em pé direito, brincar e pular, como estavam acostumados, mas ela pôde abanar, e muito, o rabo. Foi a primeira vez, em cinco (longos) dias, que Pretinha teve uma reação de felicidade, em meio a tanto sofrimento, causado por um ser que não deu valor à vida dela.

Histórias como a de Pretinha acontecem todos os dias, apesar de poderem ser evitadas, na maioria das vezes. Se você tiver a oportunidade de evitar o atropelamento e sofrimento de um cão, não pense duas vezes. Faça algo na hora, pois assim como nós, humanos, os cães sofrem, sentem dor, e falta dos seus familiares. A vida deles é tão preciosa quanto a nossa! E receber sorrisos sinceros de duas crianças por ter salvado a vida da Pretinha, foi a melhor recompensa e presente de Natal que tive.

Mesmo diante de tantos obstáculos (preocupação, angústia e busca por atendimento, exames, medicamentos, hospedagem, etc) se fosse preciso, faria tudo de novo, pois para mim, a vida de um vira-latas não tem preço!

Por Juliana Bannach

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